Ou o artista permanece uma pessoa assustada, amedrontada pelo "eco" que o mundo lhe faz acreditar, embota-se, gira o tempo todo em círculos.

Ou ele tem saído do casulo e enfrentado tantos conflitos internos e externos, que acaba iludido de que fugir ou enfrentar essa ilusão, é essencial que haja um combate entre forças.

Há quem acredite que fugimos ou enfrentamos a realidade, mas o que é a realidade em um mundo de ilusões? É sempre mais fácil fugir e enfrentar as ilusões. Isso deveria ser menos doloroso, mas não é.

Desde muito jovem, eu mergulhei fundo na minha inspiração para deixar aflorar todas as capacidades artísticas possíveis. Continuo nesse trabalho diligentemente, para que a ferramenta esteja atenta.


Se somos, e há quem acredite que estamos em evolução, eu me alicerço de que somos evoluídos, temos toda a evolução que precisamos. Estou baseado no fato de que permanecendo adormecidos para essa compreensão, não fazemos uso de todo o potencial. Enquanto dormimos, nutrimo-nos apenas de ilusões, e cada vez mais, nos distanciamos da realidade, do presente.

Somos a representação de uma obra perfeita, e todos fomos “chamados” para essa existência. Isso porque nos foi confiada uma obra a ser executada. Sobre isso, o poeta Persa Rumi diz: Se não fizer o que veio fazer, você não fez nada.

A abordagem artística, vê sempre uma tela em branco, cada pessoa que chega é uma obra que precisa ser revelada, portanto sigo a inspiração e utilizo as ferramentas que me são orientadas.


Maurício Cordeiro Neves



H á um caminho natural na vida de todo artista. Em uma vida inteira, todas as suas obras tiveram em seu centro a expressão de uma shekinah¹. Todos, sem exceção, a atribuem à musa inspiradora, a obra se manifesta das mãos dessa inspiração que entrega toda a beleza, toda a delicadeza, nos mínimos detalhes.

Numa explosão, como se as cores, as letras, a própria harmonia tivesse uma vida própria, individual. E que isso dependesse apenas de pegar nos pincéis e estar diante da tela, e assim é. O talento funciona desse modo, como uma chave que colocada na fechadura destrava a porta, e nada além.


Ao longo da obra, o artista percebe-se, dá-se conta de algo incrível. Antes ele precisava dela, da personificação, a Presença da entidade, mas então algo novo começa a surgir.

É como se ele tivesse holisticamente regalado a obra. Emprestado toda a sua beleza e cada pincelada da tela fosse uma entrega intencional. Então ele cerra seus olhos e ela está lá, continua lá, pois passa a ser a expressão da pureza. Está lá a essência, nua, despida, pura inspiração.

Mesmo diante do CAOS, da noite escura, tendo superado o tohu², amsh³ emerge do patzufim⁴ e instala-se o tikum⁵ na vida do artista.


¹ shekinah: a Divina Presença
² tohu: a escuridão
³ amsh: Aleph, Men e Shin, os elementos essenciais do Ser
⁴ pafzufim: o lodo de onde surge a lótus
⁵ tikum: o propósito de toda a existência, a lótus